Publicado por: Secom, em: 21/11/17 às 14:34Na profissão, psicóloga. Na veia artística, Leide do Banjo
Uma independência na alma de que quem aprendeu de forma autodidata: "Me apaixonei pelo arremate"
Um instrumento que quando tocado por uma mulher representa o despertar para a quebra de paradigmas e uma olindense de coração que faz do tocar e cantar com um banjo ato de sensibilização e empoderamento
No caso desta artista de 43 anos, o instrumento ‘incorporado’ ao corpo como um quinto elemento se faz presente desde os 13. Uma independência na alma de que quem aprendeu de forma autodidata: “Me apaixonei pelo arremate”.
Quem chegar na Secretaria vai encontrar a psicóloga Leide em uma das funções que ela escolheu para exercer. São muitas. Trabalhando na área de recursos humanos, ela traz todas as vivências acumuladas para atuar na área. Sem parentes músicos na família, a primeira barreira que ela precisou romper neste sentido foi essa. Ser a primeira. Em uma área que, sobretudo, com as mulheres, costuma estar carregada de preconceito. Pós-graduada em saúde mental, ela ainda se formou em cursos técnicos, como enfermagem e administração.
Mas ela explica que de todas experiências a mais enriquecedora é ser mãe, é olhar para a família e ver um legado construído no dia a dia das descobertas. Casada há 20 anos e com um filho de 11, a artista diz que agora, com o apoio deles, está podendo se dedicar mais ao talento. “Via a música como um hobby. O samba raiz sempre foi minha paixão, mas só há três anos que venho me dedicando mais profissionalmente”, frisa.
Um dos maiores orgulhos dela e que marca este momento foi este ano ter feito a abertura dos shows no Carnaval de Jorge Aragão e Lecy Brandão, que juntos com nomes como Zeca Pagodinho, são inspirações, desde o tempo em que comprava revistinhas em bancas para aprender a tocar.
As apresentações foram ao lado de companheiras de arte e luta: Helena Cristina e Gaby do Carmo, que juntas são responsáveis pelo samba gostoso, envolvente, que sai do grupo As Crioulas. As três juntas formam uma experiência exitosa de como três vozes com personalidade entram em sintonia para mostrar o que de melhor o samba pode nos oferecer.
Sem deixar o banjo de lado, ela se orgulha de ser a única em Pernambuco que toca e canta com o instrumento. “Hoje em dia eu toco e canto o que as pessoas acham que só os homens fazem. Muitas se surpreendem. E até agora não vi registro de uma mulher aqui que faça as duas coisas no estado”, afirmou, explicando que atribui a isso a talvez falta de interesse delas em conhecer profundamente essa arte.
O cavaquinho já é mais difundido. “Ele tem uma função principalmente nos solos de músicas de samba e choro. Comecei por ele, mas foi o arremate do banjo que me apaixonou. É único, lindo”, diz, relembrando do tempo que fez parte do Flor da Lira de Olinda, que há mais de 40 anos desfila pelas ladeiras da Cidade Patrimônio.
Conversar com ela é ouvir uma voz calma, intercalada por um sorriso que começa tímido e logo se torna contagiante. Uma fala que explica com propriedade sobre a origem do brilho que a sua arte produz. Luz que resplandece também no dourado que ela carrega, outra paixão vinda da infância. Quando nos encontramos, brincos, colar, sapatilha, tudo tinha um toque dessa cor. Que representa riqueza, casando bem com essa mulher negra, sambista de raiz, mãe, esposa, psicóloga. Marcante.
O repórter pediu: Leide, para encerrar essa entrevista, toca uma música que identifique a tua história. Sem pensar, a resposta veio como um Conselho, composto por Almir Guineto, eternizado na voz de Jorge Aragão:
Deixe de lado esse baixo astral
Erga a cabeça enfrente o mal
Que agindo assim será vital para o seu coração
É que em cada experiência se aprende uma lição
Eu já sofri por amar assim
Me dediquei mas foi tudo em vão
Pra que se lamentar
Se em sua vida pode encontrar
Quem te ame com toda força e ardor
E assim sucumbirá a dor (tem que lutar)
Tem que lutar
Não se abater
Só se entregar
A quem te merecer
Não estou dando nem vendendo
É como o ditado diz
O meu conselho é pra te ver feliz